sábado, 6 de outubro de 2012

Politizar a Política: ou por que votar contra burguês!


(Voto 16, Marcos Silva para prefeito de São Luís)

Saulo Pinto Silva[1]

A tradição do marxismo crítico, sem amarras e absolutamente principista, exige hoje, mais do que em nenhum outro período histórico, a necessidade imanente de que politizemos a Política. Isto trata de deslocar a ordem dos predicados da lógica da disputa contra-hegemônica para além das ideologias reacionárias e da posição absenteísta. É bem verdade que a política, como expressão do poder separado que inverte os conflitos estruturais num jogo dissimulado de posição do simulacro e do espetáculo, não resolverá os problemas substantivos da desigualdade imanente produzida no e pelo capitalismo, mas se quisermos não abandonar o sentido inegociável da esquerda, sua luta pela igualdade universalmente radical, temos que refundar o sentido da ação coletiva e intencionada, Politizar a Política!

Todavia, existe uma inscrição anônima deveras lúcida e bastante inteligente que diz que “se votar mudasse algo, seria proibido”. Ela além de ser muito perspicaz e, portanto, de possuir um conteúdo bastante radical de tensionamento da noção vaga e abstrata da democracia representativa enquanto um espaço irresoluto de perpetuação das representações políticas burguesas, esquece-se ou mesmo é muito jovem para lembra-se que o sistema eleitoral universalizado aos membros de uma comunidade política, com suas restrições etárias específicas, pois, é resultado da luta contra as proibições anteriores, que tinham como cláusulas impeditivas, por exemplo, a fortuna individual, proibicionismo do direito de votar e de ser votadas às mulheres, reconhecimento da cidadania como no caso dos negros, e um outro sem número de proibicionismos descabidos.

O que nos parece importante aqui é que nos desloquemos da obviedade embutida na noção de democracia liberal como expressão de um sistema que incorporasse uma determinada vontade geral universalista. A democracia liberal como universalidade não passaria de uma universalidade abstrata, não podendo incorporar dialeticamente em si mesma a totalidade das contradições e dissensões existentes na sociedade desigualmente organizada pelos conflitos estruturais de classes sociais hostis e antagônicas. Mas então estaríamos diante de um impasse irresolvível? Certamente o desespero não é a melhor das soluções marxistas para este problema.

Assim, a democracia liberal universalista não é a melhor das soluções tipicamente burguesas, pois se o sistema eleitoral tiver a universalidade constitucional das representações, os conflitos imanentes ganharão expressão mediante a existência de partidos proletários. Os setores mais críticos da disputa contra-hegemônica buscarão este mecanismo que mobiliza a imobilidade dos proletários pelos partidos que, apresentando candidaturas da própria classe, disputarão não apenas a consciência dos desvalidos da terra, mas igualmente o voto pautado não nos métodos econômicos de compra de votos e manutenção dos privilégios individuais, mas sim na elevação da consciência, na consecução do princípio socialista que diz que apenas através da auto-organização da classe que é possível a mudança substantiva da desigualdade produzida pela dominação burguesa de classe. Portanto, o voto nas candidaturas socialistas não pode ser reduzido mecanicamente a um mero voto de protesto, mas sim o protesto do voto proletário contra toda a imundície que existe!

Talvez, por esta razão, é que está em curso no país a disseminação de uma imbecilidade materializada em ideologia que mobiliza a imobilidade, cujo objetivo maior é justamente o veto dos “partidos nanicos”, sem nenhuma representação na Câmara Federal. Ora, se usarmos um pouco de nossa inteligência coletiva e associada de classe, para além do apanágio burguês, sem dificuldade e sem reservas, perceberemos que o objetivo máximo desta ofensiva é excluir partidos proletários, sobremaneira o PSTU, da disputa eleitoral pretensamente universalista. Para ser mais consequente, o que pensaria J-J. Rousseau a respeito de uma posição absolutamente antidemocrática como esta? É claro que o princípio da vontade geral rousseauniana é mais complexo do que aqui uso e mobilizo, mas não podemos abortar o caráter esquemático de sua estrutura político-formal para inverter a lógica dos termos de ataque. Na verdade, querem transformar o sistema eleitoral universalista num balcão de negócios proto-burguês de alternativas bifurcadas, o partido dos cínicos ou o partido dos mais cínicos?! Não temos como não lembrar do sistema americano de eliminação do dissenso e das alternativas efetivamente democráticas, mediante a institucionalização do bipartidarismo.

Então, mesmo reconhecendo que a democracia liberal é podre, formal, oca, abstrata e vazia, não podemos ignorar que ela é superior, do ponto de vista proletário, às formas ditatoriais e tirânicas de representação separada. Ocupar o espaço público é um dever e um direito dos partidos proletários, sobretudo quando têm como tarefa histórica atacar o próprio sistema, educando filosoficamente os proletários para a necessidade de os produtores associados executarem seus próprios governos de maneira livre e efetivamente universalista, e captar mais dirigentes e lideranças políticas para a construção da perspectiva revolucionária-socialista-comunista.

O que está em jogo nas eleições municipais em São Luís do Maranhão? Uma cidade que tem uma história marcada pela luta dos proletários negros contra os sucessivos sistemas de pilhagem, que substituíram senzalas e o pelourinho público pelas favelas e desemprego crônico, privatização e sucateamento do sistema de transporte público e digno, ausência de saneamento, desescolarização absoluta, produção da indignidade que na dinâmica da produção em série produz delinquentes urbanos, assaltantes e desprovidos de todos os matizes, e mais um sem número de superfluidades básicas para a morte.

Numa conjuntura estruturante como esta, aliado ao processo mais agudo de encenação farsesca em que candidaturas corruptas e burguesas usam-se da mentira em estado puro e da esperança dos proletários por uma vida pautada na igualdade, nas oportunidades e na esperança de um mundo melhor, João Castelo, Edvaldo Holanda Jr., Tadeu Palácio, Washington Luís e o restante do pomar sarneisista, não podem ser tratados de maneira distinta, isto é,  são politicamente corruptos e ideologicamente descartáveis para qualquer confiança atribuída pelos proletários através do seu voto.

Temos que ter orgulho das nossas candidaturas, independente de nossos acordos absolutos, afinal de contas, apenas os socialistas-comunistas podem compreender que os acordos absolutos são ideologias de quinta categoria, como podemos rememorar na ideia de uma vontade geral, e que nossos acordos devem estar pautados e estruturados em princípios mínimos que sirvam para guiarmo-nos coletivamente para o futuro, para uma sociedade universalmente igualitária e fraterna.

Aqui, Politizar a Política significa que temos que compreender que a política pequena não pode ser transformada naquilo que ela não pode ser, isto é, as eleições como a efetivação da estratégia socialista, mas deve ser tratada apenas um pequeno espaço de guerrilha política, em que as táticas adotadas devam estar sempre submetidas à estratégia revolucionária universalista socialista-comunista. Por isso que a posição absenteísta da esquerda da esquerda é totalmente equivocada, pois mesmo diante de desacordos profundos, não podemos permitir que a política seja mercantilizada ainda mais, em que o econômico reproduza-se determinando o político e o político desfazendo-se em migalhas como cinismo espetacular, através da naturalização da mentira em estado puro como a mediação prioritária do convencimento político e que a luta de classes seja substituída pela administração da pobreza.

A classe dos proletários, a única que em si mesma possui em seu coração a universalidade emancipatória do poder separado de classes, tem alternativa programática nestas eleições. Não apenas tem em quem votar, mas principalmente temos com quem lutar pós-eleições, lado a lado, na defesa de palavras de ordem mínimas e transitórias até palavras estratégicas que indiquem a efetivação da possibilidade socialista-comunista, ou como diria o notável historiador, recém falecido, Eric Hobsbawm, como mudança do mundo.

Na ausência amanhã, dia 07 de outubro, de uma primavera revolucionária em São Luís, podemos acabar com a festa da democracia despolitizada, votando massivamente nas candidaturas do PSTU, sendo que para prefeito temos o camarada Marcos Silva, e em uma das 09 candidaturas existentes como alternativas para representação na Câmara Municipal pela classe proletária. Por isso, contra burguês, vote 16! Que amanhã, vai ser outro dia...

[1] Economista. Professor do IFMA, campus Maracanã.


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